Sobre um fundo em que se destaca
Laercio Redondo em colaboração com Birger Lipinski
Exposição individual
Ana Mas Projects, Barcelona, Espanha, 2024
Esta série de obras se aprofunda em personalidades dissidentes e sub-representadas, tendo como figuras centrais a artista espanhola Maruja Mallo (1902-1995) e a a cantora e atriz franco-americana Josephine Baker (1906-1975). Através de móbiles, Redondo explora a ideia de “retratos abstratos”, referenciando essas duas figuras diretamente apenas nos títulos das obras. No que se vê no espaço expositivo, seus corpos performáticos e disruptivos se materializam indiretamente através de indícios e vestígios dessas personagens. Nas paredes, uma série de pequenas pinturas alude à uma casa projetada para Baker pelo arquiteto Adolf Loos (1870-1933), que jamais saiu do papel.
Tanto Mallo quanto Baker desafiaram as convenções sociais, culturais e raciais de sua época, destacando-se como ícones da vanguarda do século XX. Lutaram por igualdade de gênero e pelos direitos das mulheres, enfrentando rejeições e obstáculos, e abriram caminho para as futuras gerações. A migração foi um tema central em suas vidas: Baker deixou os Estados Unidos, distanciando-se da segregação racial, e se radicou na França, enquanto Mallo, após a Guerra Civil Espanhola, exilou-se na Argentina, retornando à sua terra natal apenas nos anos 1960.
Maruja Mallo é evocada em dois móbiles, nos quais uma orquídea e objetos orgânicos, como folhas e conchas – símbolos de fertilidade e proteção – sugerem o universo fantástico e etéreo retratado nas pinturas da artista. Mallo também é lembrada em esculturas têxteis suspensas, nas quais alguns desses objetos orgânicos estão impressos sob recortes de antigos cobertores com padronagens geométricas.
Os móbiles que fazem referência a Josephine Baker são compostos por penas extravagantes e frutas tropicais, entre outros objetos, evocando seus movimentos de dança e sua postura subversiva, que apropriava-se do estereótipo exótico para desafiar as visões conservadoras da época.
Nas paredes, uma série de pequenas pinturas faz referência à “Casa Baker”, um projeto não executado do arquiteto Loos, com sua fachada de mármore preto e branco, quase completamente desprovida de espaços íntimos; um lar disfuncional, uma projeção arquitetônica de Loos sobre a imagem de Baker. As pinturas da exposição evocam a casa que gradualmente vai escurecendo, quase até seu desaparecimento, funcionando como frames de um filme que capturam o movimento do dia através da fachada.
Foto: Roberto Ruiz