Desvios
Video instalação
video 1H, Loop, display de madeira, samambaia, luz fria e 2 cortinas de tecido,
Dimensões variadas
Em colaboração com Soraya Guimarães Hoepfner (texto) e Birger Lipinski (cortinas)
Exposição Individual – O que acaba todos os dias, MAM – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 2015
A vídeo instalação Desvios, propõe uma reflexão sobre a importância histórica de arquiteta e paisagista autodidata Lota de Macedo Soares na conceptualização e construção do Parque do Flamengo, que foi inaugurado em 1965 no Rio de Janeiro. A instalação traz à luz a autoria de Lota neste projeto urbano e tem como objetivo chamar a atenção para o apagamento na memória coletiva brasileira da figura de Lota como idealizadora do projeto.
O trabalho articula linhas de pensamento que destacam a vida de Lota e seus seis anos de trabalho não- remunerado para a administração pública no Brasil. Como chefe do Grupo de Trabalho que construiu Parque do Flamengo no Rio, ela elaborou um projeto de intervenção urbana para 296 hectares de um enorme aterro ao longo da Baía de Guanabara e também implementou as idéias que moldaram o que é hoje o Parque do Flamengo, uma grande área de lazer que tem princípios fundados em uma concepção de política, cultura e modernidade para a cidade do Rio de Janeiro.
Desvios também aborda a questão de gênero como categoria de reflexão e, portanto, como uma estrutura para a compreensão do mundo, o trabalho aborda hipóteses para entender como um ambiente essencialmente patriarcal, foram criadas condições para a eliminação sistemática das realizações culturais da Lota.
Na instalação um filme mostra em um único plano-sequência uma rota de aproximadamente uma hora, literalmente, traçando a distância entre dois pontos: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1953-1955) no Aterro do Flamengo, e a Casa Samambaia (1951), um edifício privado, de uso domestico nos arredores montanhosos da cidade de Petrópolis. Nesta casa moraram juntas por muitos anos Lota de Macedo Soares e sua companheira, a poeta americana Elisabeth Bishop. O projeto desta casa, um dos marcos da arquitetura moderna brasileira é do arquiteto Sérgio Bernardes.
No vídeo, black frames interrompem continuamente o plano-sequência para reproduzir uma trilha sonora com fragmentos narrativos que evocam diferenças entre o que é entendido como público ou privado (o Museu de Arte Moderna / Parque do Flamengo e Casa Samambaia). O filme apresenta, assim, um desvio espacial e histórico: começa e termina com as contribuições de Lota para um projeto arquitetônico público e um privado e através da trilha sonora os visitantes são convidados a refletir sobre os possíveis motivos para a ausência de Lota da memória coletiva brasileira.
No espaço expositivo, a vídeo instalação apresenta uma estrutura de madeira e 2 cortinas. Apontando para questões da arquitetura, o elemento de madeira inclinado, que permite que o público possa se sentar e assistir o vídeo, também assemelha uma reminiscência da construção do telhado da Casa Samambaia. Um pouco oculta, um samambaia é disposta abaixo da estrutura de madeira, materializando uma relação direta com o filme, a floresta tropical no caminho para Petrópolis e a Casa Samambaia.
As vigas de construção do telhado da Casa Samambaia e as colunas icônicas do MAM-Rio são reproduzidas também nas cortinas desta instalação. Desvios retorna a dois edifícios emblemáticos da arquitetura moderna brasileira, a fim de enfatizar a singularidade de Lota de Macedo Soares e suas contribuições para confrontar seu próprio tempo e perseguir seus ideais, o trabalho sugere também como a modernidade e também a memória histórica permanecem projetos incompletos no Brasil até os dias de hoje.
Fotos:
Sérgio Araújo