Entrever
Laercio Redondo em colaboração com Birger Lipinski
Exposição individual
Galleria Continua, São Paulo, Brazil, 2025
Entrever marca a primeira exposição individual de Laercio Redondo na Galleria Continua. O artista apresenta duas séries de trabalhos desenvolvidas em contextos distintos, mas que, em comum, revelam seu interesse pela natureza da imagem, um campo de tensões onde se entrelaçam o visível e o invisível, a presença e a ausência. Seu olhar recai sobre o que se manifesta como aparente, mas que, velado por camadas de esquecimento ou exclusão, permanece ocultado.
Relance parte de uma reflexão sobre a história da arte brasileira e questiona também o padrão museológico que tem servido à reificação de estruturas coloniais de exposição. Na Pinacoteca de São Paulo em 2018, Redondo pesquisou a obra do pintor Estevão Silva, o primeiro artista negro a ingressar na Academia Imperial de Belas Artes por volta de 1863. Das narrativas lacunares reconhecidas nesse processo, o artista apresenta agora um conjunto de oito monocromos pretos, cujas superfícies emitem um leve brilho que se intensifica à medida que o observador se aproxima, revelando imagens encapsuladas. São imagens em potência, entre o virtual e o real, no limite da visibilidade.
Em contexto diverso, a série O mais simples é o mais difícil de fazer, realizada em 2020 no Pavilhão Barcelona, posiciona Redondo no campo da arquitetura, com especial interesse pelas vertentes modernas. Projetado em 1929 por Mies van der Rohe e Lilly Reich, o Pavilhão é em si um lugar de apagamentos — sobretudo pela omissão de Reich como coautora e pela controversa reconstrução em 1986.
Redondo problematiza essas fissuras em fotografias impressas em seda que enredam passado e presente, trazendo à cena figuras e histórias esquecidas. Ao escolher a seda, reforça a materialidade etérea da obra e celebra o papel de Reich como designer têxtil. Um conjunto de monocromos pretos sobre bases de mármore evoca ainda a densidade material do edifício. Em contraste com o ideal da transparência modernista, sua superfície opaca atua como gesto provocativo, resistindo às narrativas dominantes e propondo outra forma de se relacionar com o visível.
Patricia Wagner, curadora (excerto do texto curatorial original)
Foto: Sara de Santis